quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

"A uma mulher bela...!"

Para... Regina Liechtenstein Muller...!
A UMA MULHER BELA (e singular, sem medo, que sabe onde começa o mundo do Poeta, mulher lua, feito lua nova, em frase intensa, que não tem uma corda na mão para amarrar o Poeta nem uma mordaça para silenciá-lo, mulher dialógica, plena, tipo verbo conjugado nos seis tempos da criação) א Conheces o fluxo da Poesia e do Vinho e de como, assim, juntos, abrem fendas no mundo e portas para a intensidade? Conheces? Tens coragem de beber desta Poesia e ouvir deste Vinho? ב Porque o caminho da coragem, a muita coragem, de provocar um Poeta, leva a uma dimensão, singular e única, onde (vencido o caminho do poema e da forma) descobrem-se a Poesia e Mergulho, Música e Vôo, Vida e Intensidade, em plena Anarquia dos Jardins e Altos dos lábios, dos poros e pupilas dilatadas! ג O medo, próprio dos aprisionados em cadeias cotidianas, torna almas e corpos impermeáveis e perdidos no comum. A coragem, ao contrário, faz germinar a semente e os olhos, desabrochar flores e lábios e faz, também, as raízes, irresistíveis, arrebentarem o concreto da lufa-lufa. Coragem e provocação fazem avançar o passo, superar a partitura, descobrir mundos além dos mundos, e Poesia pura e viva além do verso. A coragem - e a provocação - abrem os caminhos em que a Vida não se confunde com existência! Os olhos da mulher bela enxergam estes mundos e sabem onde começam os primeiros sons criadores da Poesia e do Poeta, para além do giz, do lápis e dos corredores! ד A Poesia é mesmo atrevida! Junta terra, fogo, água e ar. Rasga um rio no deserto que leva ao mar. Alarga o jardim, sobe a serra, orvalha a flor, abre caminhos da vida que conduzem ao encanto, ao estado de rasgar o manto! Toca uma nota que se desdobra em cântico de contentamento, cores e tempos diversos. Risca versos e transborda das linhas, das entrelinhas. Abre portões, portas, janelas, botões, telas, sorrisos, risos, gargalhadas, sons indecifráveis, bocas amáveis, revoadas, asas, pulmões, casas, salas, salões, alas, corredores, humores, e vai abrindo rios e explodindo mundos! A Poesia, esta força atrevida: vida carne, ossos, alma, mente, olhos e boca! Anárquica! Libertária! Grandiosa! Incontida! Pavorosa! Atrevida! ...que faz tremer e temer qualquer transeunte! ה Porque há uma mulher que não é apenas mulher: é mulher-gente! E, assim, de repente, toca a lua, abre o jardim, fica nua entre letras, pontos e notas musicais, transforma ais em canto, entrega o manto, abre a porta e vai, sem medo nem pavor, com a boca aberta, transformando um homem, em homem-gente: homem-poeta! ו Então, conheces mesmo o fluxo da Poesia e do Vinho? Conheces? Porque o Poeta não escreve versos, mas fende universos de gozo inteiro... Conheces o fluxo da Poesia e do Vinho, juntos, feitos sob os pés dançantes? É explosão de sentidos: o olhar, o toque, o gosto, o som, o cheiro! É transbordamento tinto! É criação de trilhas, fontes, ilhas, terremotos incontidos! É sopro que nasce nos olhos, na boca, no peito, na língua de qualquer língua no mergulho ao fundo e segue, sem fim, para o umbigo pleno e dali para desnudar a origem do mundo! * [© Pietro N-Dellova, in “A UMA MULHER BELA”, 2013] *imagem: foto by © Alessio Delfino, Italy

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